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O vício por jogos eletrônicos

ARTIGOS

29/06/18 por Clínica DiálogoJovens e Adolescentes

Jogos: como identificar e diferenciar uma compulsão de um lazer?

Leia o que foi publicado, sobre jogos eletrônicos, em um jornal conceituado:

“Este novo aparelho é realmente fascinante, mas precisamos tomar cuidado com a nossa juventude. Ninguém mais conversa pessoalmente, todos só estão se falando por meio deste equipamento.”

Em que período você acredita que foram escritas essas palavras?

Certamente parecem estar falando de celulares, contudo, o comentário foi feito após telefones fixos se tornarem populares, nos anos 90. Estávamos preocupados com o fato dos jovens não escreverem mais cartas nem saírem para brincar na rua. Alguns autores diziam que as futuras gerações teriam dificuldades de se comunicar. Bem, caro leitor, você que está lendo isso deve ser pai ou mãe desta geração. E sabemos que as dificuldades não são maiores nem menores que a de gerações passadas. Isso porque não são as tecnologias que nos modelam, mas a forma como utilizamos.

Quando a internet estava dando seus primeiros passos, acreditava-se que o conhecimento seria muito variado e difundido. Um jovem das américas poderia conversar com alguém da China, e isso traria uma fusão de ideias. Hoje temos exatamente isso, mas divulgando pornografia ou memes de alguma modinha. Mas a facilidade com que conhecimento é divulgado é inegável. Críticas às novas tecnologias ou utilizações indevidas sempre ocorrem e continuarão a aparecer.

O distúrbio dos “games”

Recentemente o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), divulgou a inclusão de mais um tipo de distúrbio, classificado como “gaming disorders” (vicio em videogames). Segundo a OMS, assim como outros vícios, caso afete a vida do indivíduo de forma enfática (deixe de comer, interagir, ou cuidar de si), a pessoa possui o distúrbio. Por estabelecer os critérios de forma clara, não pretendemos debater como se da o distúrbio, mas sim a rápida demonização atrelada ao aparelho. Seja ele um computador, videogame, tablet ou celular, qualquer equipamento eletrônico utilizado para jogar ainda é tratado como instrumento diabólico construído para transformar jovens em marionetes.

Nossa predileção por cores, movimento e música tornam equipamentos eletrônicos alvo fácil da nossa atenção. Isso porque jogos ainda nos fornecem algo que adoramos: vencer. Mas isso torna um videogame tão viciante quanto futebol, xadrez ou palavra cruzada. Demonizar jogos eletrônicos ou redes sociais, focando em uma utilização duvidosa, seria tão infantil quanto exorcizar uma impressora por ocupar o lugar sagrado das canetas ou pela sua capacidade de criação de figuras pornográficas.

Claro, isso não muda o fato de que alguns indivíduos, dependendo de seu histórico de vida, foquem neste universo de forma tão visceral que precisem de ajuda para sair.

Como identificar e diferenciar um vício de um lazer?

O primeiro ponto é entender que não estamos falando de quantidade de utilização. Passar o dia todo lendo um livro sem ir ao banheiro ou comer também é preocupante, mas uma manhã inteira jogando acaba por parecer pior. Precisamos focar em como a pessoa lida com a ausência do jogo ou da rede social. Nesse sentido, alguns questionamentos podem auxiliar na identificação: a pessoa para de jogar para comer ou ir ao banheiro? Como ela lida com a necessidade de suspender imediatamente o jogo (ficar sem energia elétrica ou internet, por exemplo)? O indivíduo possui outras formas de interação social ou lazer, mas não as utiliza?

Nesse momento inicial, percebendo mudanças de comportamento, buscar um psicólogo certamente ajuda a identificar o vinculo excessivo, facilitando a mudança de comportamento. Identificando que é apenas um lazer, passe de fase, ganhe mais vidas, poste aquele meme, deixe seu like e curta o texto.

 

Thiago Nogueira – Psicólogo – CRP: 01/18762.

Texto publicado no portal Brasília Capital em 29/07/2018.

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